Bem Estar | 24/07/2017 | 265 visualizações
Muitas pessoas passam seus dias de trabalho imersos entre luzes fluorescentes e em frente ao computador, depois voltam para casa para aproveitar o brilho das telas de televisão.
No entanto, passar muito tempo em locais fechados não é bom para o nosso corpo e mente. A natureza é benéfica – até mesmo essencial – para a saúde humana. Psicólogos e pesquisadores de saúde estão encontrando cada vez mais motivos, apoiados pela ciência, pelos quais devemos passar algum tempo lá fora.
Em seu livro recente, “The Nature Fix: Por que a natureza nos faz mais felizes, mais saudáveis e mais criativos”, a jornalista Florence Williams escreve que começou a investigar os benefícios para a saúde da natureza depois de se mudar do terreno montanhoso de Boulder, no Colorado
“Antes, eu me sentia desorientada, sobrecarregada, deprimida”, ela escreve. “Minha mente tinha problemas para se concentrar. Não conseguia terminar pensamentos, tomar decisões ou manifestar interesse em sair da cama”.
Não é necessário viver num local tão deslumbrante quanto Boulder – e a maioria de nós não pode mesmo viver em qualquer lugar muito remoto, sem smartphones ou acesso à internet. No entanto, precisamos passar mais tempo em ambientes naturais. Isso poderia incluir belas trilhas para caminhadas ou mesmo apenas uma visita a um parque em meio à rotina de trabalho.
Mas por que é tão importante fazer isso? Confira as descobertas:
Memória de curto prazo
Vários estudos mostram que as caminhadas pela natureza têm efeitos benéficos à memória que outros tipos de caminhada não trazem.
Em um estudo, os alunos da Universidade de Michigan receberam um breve teste de memória e dividiram-se em dois grupos. Um grupo deu uma volta num local arborizado e o outro caminhou por uma rua da cidade.
Quando os participantes retornaram e refizeram o teste, aqueles que caminharam entre as árvores tiveram desempenho quase 20% melhor em relação à primeira vez. Os que tinham tomado rumos pela cidade não apresentaram melhoria consistente.
Um estudo semelhante em indivíduos com depressão constatou que caminhadas na natureza aumentam a memória de trabalho muito mais do que caminhadas em ambientes urbanos.
Efeito desestresante
Alguma coisa no fato de estar ao ar livre transforma a expressão física do estresse no corpo.
Um estudo descobriu que os estudantes enviados para a floresta durante duas noites apresentaram níveis mais baixos de cortisol – um hormônio frequentemente usado como marcador de estresse – do que aqueles que passaram o mesmo tempo na cidade.
Em outro estudo, pesquisadores descobriram uma redução da frequência cardíaca e dos níveis de cortisol em indivíduos que estiveram na floresta quando comparados aos da cidade. “Estados estressantes podem ser aliviados pela terapia florestal”, concluíram.
Entre quem trabalha em escritório, mesmo a visão da natureza por uma janela está associada a menor estresse e maior satisfação no trabalho.
Passar tempo fora reduz inflamações
Quando a inflamação atinge graus excessivos, ela é associada em diferentes graus a uma ampla gama de doenças, incluindo distúrbios autoimunes, doenças intestinais inflamatórias, depressão e câncer. Passar tempo na natureza pode ser uma maneira de ajudar a manter tudo sob controle.
Em pesquisa relacionada ao tema, alunos que passaram o tempo na floresta apresentaram níveis mais baixos de inflamação do que aqueles que estavam na cidade. Em outro estudo, pacientes idosos que haviam sido enviados a uma viagem de uma semana pela floresta apresentaram sinais reduzidos de inflamação, bem como algumas indicações de que o passeio verdejante causou um efeito positivo sobre a hipertensão arterial.
Estar ao ar livre ajuda a eliminar a fadiga
Você conhece aquele sentimento em que seu cérebro mostra que pode parar a qualquer momento? Os pesquisadores chamam essa sensação de “fadiga mental”.
Uma situação que pode ajudar a recuperar a mente é a exposição do corpo a ambientes restauradores, o que, segundo a pesquisa, geralmente significa o grande espaço externo. Um estudo descobriu que a energia mental das pessoas se recuperava até mesmo quando eles apenas olhavam as fotos da natureza (imagens que retratavam cenas da cidade não causavam esse efeito).
Estudos também descobriram que a beleza natural pode despertar sentimentos de admiração, que é uma das formas mais seguras de experimentar um impulso mental.
Experiências ao ar livre podem ajudar a combater a depressão e a ansiedade
Ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental podem experimentar alívio depois de algum tempo ao ar livre – especialmente quando isso é combinado com o exercício.
Um estudo descobriu que as caminhadas na floresta estavam associadas a diminuição dos níveis de ansiedade e mau humor, enquanto outro descobriu que caminhar ao ar livre poderia ser “úteis clinicamente como um complemento aos tratamentos existentes” para transtornos depressivos mais graves.
“Todo ambiente verde melhorou a autoestima e o humor”, informa uma análise que reúne conclusões de dez estudos anteriores sobre o chamado “exercício verde’: “pessoas com distúrbios mentais tiveram os mais altos graus de melhoria na autoestima”. A presença da água tornou os efeitos positivos ainda mais fortes.
Estar fora pode proteger sua visão
Pelo menos em crianças, um grande número de pesquisas descobriu que a atividade ao ar livre pode ter um efeito protetor nos olhos, reduzindo o risco de desenvolver miopia.
“Aumentar o tempo gasto ao ar livre pode ser uma estratégia simples para reduzir o risco de desenvolver distúrbios visuais e sua progressão em crianças e adolescentes”, concluiu uma versão da pesquisa realizada em 2012.
Em Taiwan, pesquisadores estudaram duas escolas da região onde a miopia era igualmente comum. Eles pediram a uma delas para incentivar a atividade ao ar livre durante o recesso e monitoraram a outra como forma de controle. Após um ano, a taxa de miopia na escola controlada foi de 17,65%; na escola que incentivou brincadeiras ao ar livre, foi de apenas 8,41%.
Capacidade de foco
Sabemos que o ambiente natural é “restaurador”, e um dos aspectos que a caminhada externa pode restaurar é a perda de atenção.
Em um estudo, pesquisadores trabalharam para esgotar a capacidade de foco dos participantes. Então, alguns caminharam na natureza, alguns caminharam pela cidade, e o resto simplesmente relaxou. Quando eles retornaram, o grupo que esteve entre áreas verdes obteve o melhor desempenho em uma tarefa de revisão.
O “efeito atencional” da natureza é tão forte que pode ajudar as crianças com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que, segundo se descobriu, passavam a se concentrar melhor depois de apenas 20 minutos em um parque. “As doses da natureza podem servir como uma nova ferramenta segura, barata e amplamente acessível para gerenciar sintomas de TDAH”, escreveram os pesquisadores.
Você pode executar melhor as tarefas criativas depois de estar fora
“Imagine uma terapia que não tenha efeitos colaterais conhecidos, que esteja prontamente disponível e que pode melhorar seu funcionamento cognitivo sem custo algum”. Essa é a abertura dramática para um artigo de 2008 que descreve a promessa da chamada “terapia da natureza” – ou, como um não-acadêmico, pode chamá-la, “tempo fora”.
Outro estudo descobriu que as pessoas imersas na natureza durante quatro dias – tempo significativamente maior do que uma caminhada em horário de almoço no parque – impulsionaram seu desempenho em um teste criativo de resolução de problemas em 50%.
Passar tempo fora reduz a pressão sanguínea
Com todos esses outros efeitos salutares, não é de admirar que o tempo ao ar livre – o que geralmente envolve caminhadas – também diminui a pressão arterial, como é demonstrado por uma série de estudos.
Uma pesquisa intensiva com 280 participantes, realizada no Japão, descobriu que, além de reduzir as concentrações de hormônio do estresse em mais de 15%, uma caminhada na floresta reduziu também a pulsação média em quase 4% e a pressão arterial em pouco mais de 2%.
Sessões ao ar livre podem até ajudar a prevenir o câncer
A pesquisa sobre essa conexão ainda está em suas fases iniciais, mas estudos preliminares sugeriram que passar tempo na natureza – nas florestas, em particular – pode estimular a produção de proteínas anticancerígenas.
Os níveis elevados dessas proteínas podem durar até sete dias após uma viagem relaxante na floresta.
Estudos realizados no Japão, onde os “shinrin-yoku” – ou “banhos de floresta” – são tratados como medicamentos preventivos, também descobriram que as áreas com maior cobertura florestal têm taxas de mortalidade mais baixas em uma grande variedade de tipos de câncer. Embora existam muitos fatores confusos para chegar a uma conclusão concreta sobre o que isso pode significar, é uma área promissora para pesquisa futura.
Florestas também podem fortalecer seu sistema imunológico
A atividade celular associada aos possíveis efeitos anticancerígenos de uma floresta também é indicativa de um impulso geral ao sistema imunológico em que confiamos para lutar contra males menos graves, como resfriados, gripes e outras infecções.
Uma publicação de 2010 da pesquisa relacionada a este efeito observou que “todos esses achados sugerem, fortemente, que os ambientes florestais têm efeitos benéficos na função imune humana”, mas reconheceu que é necessária mais pesquisa sobre o assunto.
Conclusões gerais: anti-morte precoce
Diante de todos esses dados, não é muito surpreendente que o tempo ao ar livre esteja associado a um menor risco de morte precoce.
Haver espaço verde nas proximidades pode ser especialmente importante para quem reside em ambientes urbanos, de acordo com um estudo holandês realizado com mais de 250 mil pessoas e que encontrou uma forte conexão positiva entre o espaço verde e a saúde.
Um estudo seguinte, da mesma equipe de pesquisa, descobriu que uma grande variedade de doenças eram menos comuns entre quem viviam nas proximidades de espaço verde. Outros estudos estabeleceram uma ligação direta entre o tempo gasto nas florestas e outras medidas de saúde geral.
Um estudo recente publicado na Environmental Health Perspectives encontrou uma conexão semelhante: nessas áreas, há uma taxa de mortalidade de 12% menor, com as maiores melhorias relacionadas ao risco reduzido de morte por câncer, doença pulmonar ou doença renal.
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Fonte: Hypescience